Recomeço da mulher após o câncer

Redação GBOT

24 de março de 2025

08:30

Desde a década de 1990, a preocupação com os sobreviventes do câncer e seu retorno à vida cotidiana, incluindo o mercado de trabalho, tem sido um tema de estudo. Logo, o aumento da sobrevida, devido aos avanços nos tratamentos, trouxe desafios significativos, especialmente para as mulheres, que enfrentam não apenas questões físicas, mas também emocionais e sociais durante a fase de recuperação.

Estudos indicam que entre 44% e 100% dos pacientes sobreviventes ao câncer encontram dificuldades para retomar suas atividades profissionais e diárias. Além disso, a estimativa global para 2030 projeta 21,4 milhões de novos casos de câncer e 13,2 milhões de mortes pela doença. Portanto, esse cenário evidencia a necessidade de apoio contínuo para essas mulheres em seu processo de recomeço.

Recomeço da mulher após enfrentar o câncer

Após o impacto inicial do diagnóstico de câncer, o paciente inicia uma jornada em busca do tratamento mais adequado. Nesse processo, contar com uma rede de apoio e ter a segurança de que seu emprego será mantido durante e após o tratamento pode fazer toda a diferença para atravessar essa fase desafiadora.

Desafios na Proteção ao Trabalhador

Todavia, a realidade nem sempre corresponde a essa necessidade. A Justiça do Trabalho lida frequentemente com casos de profissionais diagnosticados com câncer que são demitidos, o que pode levar à interrupção do tratamento devido à perda do plano de saúde corporativo. Em contrapartida, há relatos de desligamento após o retorno ao trabalho, agravando um momento já delicado para o paciente.

Direito à Estabilidade

No Brasil, ainda não existe uma legislação específica que assegure a estabilidade no emprego após o tratamento de uma doença grave. No entanto, a Lei 9.029/1995 proíbe demissões motivadas por discriminação. Além disso, a Súmula 443 do Tribunal Superior do Trabalho (TST) considera discriminatória a dispensa de trabalhadores acometidos por doenças graves que gerem estigma ou preconceito. A jurisprudência do TST inclui o câncer nesse entendimento, reforçando a proteção ao trabalhador nessa condição.

Desafios e impactos do câncer de pulmão nas mulheres

As taxas de incidência e mortalidade por câncer de pulmão estão aumentando no Brasil, especialmente entre as mulheres. Embora o tabagismo seja um fator de risco importante, o aumento dos casos entre mulheres não fumantes destaca a necessidade de uma investigação mais ampla.

Mulheres estão mais expostas a riscos ambientais, como poluição do ar em ambientes internos devido a combustíveis de cozinha, fumo passivo e fatores ocupacionais, como exposição a produtos químicos em salões de beleza. Além disso, aspectos hormonais e diferenças biológicas também podem influenciar o desenvolvimento da doença.

Veja também – Programas de assistência para pacientes com câncer de pulmão. 

Autoestima: recomeço da mulher após diagnóstico do câncer

A autoestima feminina pode ser profundamente afetada pelas transformações no corpo causadas pelo câncer. A perda de cabelo, as cicatrizes e a mudança na estrutura corporal impactam diretamente a autopercepção. No entanto, há diversas estratégias que podem ajudar nesse processo:

Uso de perucas, lenços e maquiagem: podem contribuir para restaurar a confiança e promover a sensação de normalidade. Por outro lado, terapia e grupos de apoio oferecem um espaço seguro para compartilhar experiências e buscar suporte emocional.

Atividades prazerosas e retomada de planos através do resgate de hobbies, estabelecendo novas metas e investir em novos aprendizados são formas de reconstruir a identidade pós-tratamento.

Após o término do tratamento, os cuidados com a saúde continuam sendo fundamentais. A prevenção de recidivas e o monitoramento contínuo são indispensáveis para garantir qualidade de vida. Algumas medidas importantes incluem:

1. Exames periódicos e consultas médicas regulares: fundamentais para identificar precocemente qualquer alteração.

2. Estilo de vida saudável: alimentação equilibrada, atividade física regular e controle do estresse auxiliam na manutenção da saúde.

3. Evitar fatores de risco: tabagismo, consumo excessivo de álcool e exposição a poluentes podem aumentar o risco de recidiva.

Dispensa Discriminatória

O ministro Cláudio Brandão destaca a evolução do Tribunal Superior do Trabalho no reconhecimento de casos de dispensa discriminatória. “O grande avanço da Súmula 443 é estabelecer que, quando há alegação de demissão discriminatória, cabe à empresa comprovar de forma sólida que o desligamento não ocorreu por preconceito ou estigma”, explica. “Estamos atentos a essas situações e deixamos claro às empresas que é fundamental preservar a dignidade e o emprego de pessoas que enfrentam um momento de extrema vulnerabilidade.”

Leia mais – Por que crescem casos de câncer de pulmão entre mulheres que nunca fumaram. 

A Súmula 443 também determina que, caso a empresa não consiga comprovar que a dispensa não foi discriminatória, o trabalhador tem direito à reintegração ao emprego ou à reparação integral dos danos materiais, morais e extrapatrimoniais.

“A demissão sem justa causa já representa, por si só, uma violação da dignidade humana. Quando ocorre com uma pessoa em tratamento contra o câncer, essa violação se torna ainda mais grave”, afirma o ministro Brandão. “As empresas deveriam adotar posturas de respeito e inclusão. Quando o TST decide pela reintegração ou pela indenização, busca minimizar esse impacto e restaurar a dignidade do trabalhador.”

Garantias para pacientes com câncer

Pessoas diagnosticadas com neoplasia maligna ou que possuam dependentes nessa condição têm direito ao saque do FGTS e do PIS/PASEP, podendo acessar o saldo de todas as suas contas, inclusive a vinculada ao contrato de trabalho atual.

Se a doença incapacitar temporariamente o trabalhador por mais de 15 dias consecutivos, ele pode solicitar o auxílio-doença. No caso de câncer, esse benefício não exige o período mínimo de 12 contribuições previdenciárias, desde que o segurado esteja regular perante o INSS.

A concessão do auxílio-doença depende da avaliação da perícia médica do INSS. Se a incapacidade for considerada definitiva, o segurado poderá ser aposentado por invalidez. Esse direito é garantido a quem não pode ser reabilitado para outra atividade que lhe garanta subsistência, independentemente de estar recebendo auxílio-doença.

Além disso, a Lei 7.713/1988 assegura a isenção do Imposto de Renda sobre os rendimentos provenientes de aposentadoria, reforma ou pensão, incluindo complementações.

Recomeço da mulher após o câncer e outros direitos

Pacientes com câncer que apresentem deficiência nos membros superiores ou inferiores que impeça a condução de veículos comuns podem solicitar a isenção do IPI na compra de um carro adaptado. Se estiverem impossibilitados de dirigir, um representante legal pode requerer o benefício.

Alguns estados também concedem isenção do IPVA para veículos adaptados ou adquiridos por pessoas com deficiência.

Dia Nacional de Combate ao Câncer

Criado pelo Ministério da Saúde em 1988, o Dia Nacional de Combate ao Câncer, celebrado em 27 de novembro, tem como objetivo conscientizar a população sobre a doença e reforçar a importância da prevenção.

Segundo a publicação “Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil”, do Instituto Nacional de Câncer (Inca), são esperados 704 mil novos casos de câncer por ano no Brasil entre 2023 e 2025. Os tipos mais frequentes são:

  1. Pele não melanoma – 31,3% dos casos
  2.  Mama feminino – 10,5%
  3.  Próstata – 10,2%
  4.  Cólon e reto – 6,5%
  5.  Pulmão – 4,6%
  6.  Estômago – 3,1%

A conscientização sobre a prevenção, o diagnóstico precoce e os direitos dos pacientes são fundamentais para garantir melhor qualidade de vida e assistência a quem enfrenta a doença.

 

Compartilhe esse conteúdo via: