O desafio do tabagismo entre as mulheres

Redação GBOT

21 de março de 2025

08:30

Embora a taxa global de fumantes tenha diminuído, o tabagismo entre as mulheres ainda é uma preocupação importante. Um dos principais fatores que impulsionam o aumento das taxas de câncer de pulmão em mulheres pode ser a complexa interação de fatores de risco únicos que diferem significativamente dos que afetam os homens. Por exemplo, o câncer de pulmão de não pequenas células (NSCLC) é uma doença heterogênea na qual o gênero desempenha um papel significativo em sua patogênese, diagnóstico e tratamento.

No entanto, os desafios do tabagismo entre as mulheres são muitos, incluindo a dependência psicológica que representa um grande obstáculo para quem deseja e precisa largar o cigarro. Por outro lado, a exposição prolongada às substâncias tóxicas e ao fumo passivo eleva os riscos de doenças graves, principalmente ao público feminino, como câncer de pulmão, problemas cardiovasculares e respiratórios.

De acordo com a Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde [CID-11], ele integra o grupo de “transtornos mentais, comportamentais ou do neurodesenvolvimento” em razão do uso da substância psicoativa (WHO, 2022). Ele também é considerado a maior causa evitável isolada de adoecimento e mortes precoces em todo o mundo (Drope et al, 2018).

Saiba mais – Como o cigarro vicia e por que as mulheres são as vítimas da vez. 

Tabagismo entre mulheres e aumento do câncer de pulmão

De antemão, a incidência de câncer de pulmão e as taxas de mortalidade estão aumentando no Brasil, especialmente entre as mulheres. Mesmo aquelas que nunca fumaram estão em risco de desenvolver a doença. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima-se que entre 2023 e 2025, haverá aproximadamente 704 mil novos casos de câncer registrados no país, sendo 244 mil em mulheres. O câncer de pulmão é o quarto tipo mais comum entre elas, com uma incidência esperada de 9,26 casos por 100 mil habitantes.

O desafio do tabagismo entre as mulheres

 

Todavia, as taxas de incidência variam por região. Em estados como Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal, Acre e Roraima, o câncer de pulmão é o terceiro mais comum entre as mulheres. No Rio Grande do Sul, ele ocupa a segunda posição, atrás apenas do câncer de mama.

Em outras palavras, estudos apontam que as taxas de mortalidade por câncer de pulmão são mais altas em regiões com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Além disso, há uma tendência crescente da mortalidade por essa doença entre as mulheres, um dado preocupante que reforça a necessidade de prevenção e diagnóstico precoce.

Dados do INCA indicam que a sobrevida mediana das mulheres com câncer de pulmão é superior à dos homens: 14,2 meses versus 10,5 meses. Desse modo, essa diferença pode ser explicada pelo fato de que as mulheres tendem a ser diagnosticadas em estágios iniciais e muitas não fumam, o que sugere outros fatores de risco envolvidos.

A relação entre o tabagismo e o câncer de pulmão em mulheres

O Brasil tem se destacado no combate ao tabagismo, reduzindo a prevalência do hábito de 15,7% para 9,8% entre 2006 e 2019. Nesse ínterim, essa queda foi ainda mais acentuada entre as mulheres, cuja taxa caiu de 12,4% para 7,7%. No entanto, entre 2013 e 2019, o número de mulheres que nunca fumaram, sobretudo, reduziu-se de 62,3% para 56,6%, sugerindo que algumas estão iniciando o hábito, enquanto outras estão abandonando o cigarro.

Em contrapartida, cerca de 63% das mulheres diagnosticadas com câncer de pulmão nunca fumaram. Isso sugere que fatores como o fumo passivo e a exposição a substâncias tóxicas desempenham um papel crucial no desenvolvimento da doença.

O impacto do fumo passivo

O fumo passivo continua sendo um grande desafio para as mulheres que convivem com fumantes. Em 2021, o Brasil registrou mais de 20.600 mortes associadas ao fumo passivo, sendo 8.271 entre mulheres. Apesar da queda na exposição ao fumo passivo em domicílios e locais de trabalho nos últimos anos, as mulheres ainda são mais afetadas dentro de casa, com uma taxa de exposição de 10,2% contra 7,9% dos homens.

Além disso, mulheres que trabalham em ambientes com produtos químicos, como salões de beleza, podem estar expostas a substâncias nocivas que aumentam o risco de câncer de pulmão. Isso reforça a necessidade de políticas públicas mais rigorosas para a proteção dessas profissionais.

Segundo dados publicados em 2020 pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), não existe um nível seguro de exposição passiva à fumaça do tabaco.

Tabagismo: problema de saúde pública

Nos adultos, o fumo passivo está diretamente associado ao desenvolvimento de graves doenças cardiovasculares e respiratórias, como doença coronariana e câncer de pulmão. Logo, em bebês, pode levar à morte súbita, enquanto em gestantes aumenta o risco de nascimento prematuro e baixo peso ao nascer.

Quase metade das crianças está exposta regularmente à fumaça do tabaco em ambientes públicos, e essa exposição contribui para mais de 1,2 milhão de mortes prematuras anualmente. Além disso, cerca de 65 mil crianças morrem a cada ano devido a doenças relacionadas ao fumo passivo.

Contudo, garantir um ambiente livre da fumaça do tabaco é um direito fundamental. As leis antifumo protegem a saúde dos não fumantes, são amplamente aceitas, não prejudicam a economia e incentivam os fumantes a abandonar o hábito. Atualmente, mais de 1,6 bilhão de pessoas – o equivalente a 22% da população mundial – estão protegidas por legislações nacionais rigorosas contra o tabagismo.

Histórico do controle do tabagismo no Brasil

O Brasil iniciou seus esforços para o controle do tabaco nos anos 1980. Um ano depois, o Ministério da Saúde criou a Comissão para Estudos das Consequências do Fumo. Em 1988, a Constituição Federal já determinava restrições à publicidade do tabaco, exigindo advertências sobre seus malefícios.

Em 1999, o governo criou a Comissão Nacional para o Controle do Tabaco para auxiliar o presidente da República nas decisões.

Há dois anos, o Brasil tornou-se o segundo país a assinar a CQCT da OMS e ratificou o tratado em outubro de 2005, após dois anos e quatro meses de intensos confrontos entre organizações de saúde pública, ativistas e a indústria do tabaco.

Prevenção e Conscientização

Dessa forma, para reduzir a incidência do câncer de pulmão entre mulheres, é fundamental investir em campanhas de conscientização sobre os riscos do tabagismo e do fumo passivo. Algumas medidas importantes incluem:

  1. Manutenção e ampliação das leis que restringem o uso de tabaco em espaços públicos e privados.
  2. Exames regulares, como tomografias de baixa dose, para mulheres com histórico de exposição ao tabaco.
  3. Regulação e fiscalização de produtos químicos que possam estar associados ao câncer de pulmão.
  4. Esclarecimento sobre os perigos do tabagismo e do fumo passivo, incentivando a cessação do hábito e a proteção contra a exposição involuntária.

O tabagismo entre mulheres no Brasil está em declínio, mas ainda representa um grande desafio. A prevenção, o diagnóstico precoce e a redução da exposição a fatores de risco são essenciais para combater essa doença.

 

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