CHICAGO, 06 JUNHO DE 2017

ASCO 2017

É com grande satisfação de compartilhamos com todos vocês os comentários realizados pelos membros do GBOT sobre os principais estudos apresentados em câncer de pulmão no dia 06 de junho.

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Abstract 9000

Progression after the next line of therapy (PFS2) and updated OS among patients (pts) with advanced NSCLC and PD-L1 tumor proportion score (TPS) ≥50% enrolled in KEYNOTE-024.

Esta é uma analise exploratória do estudo KEYNOTE-024 (NCT02142738), onde pembrolizumabe (pembro) foi superior `a quimioterapia citotóxica de primeira linha em termos de PFS e OS em pacientes portadores de carcinoma de pulmão de células não pequenas metastático com elevada expressão de PD-L1 (TPS ≥50%), sem a presença de mutações ativadoras do EGFR ou translocação do ALK. Numa mediana de 11, 2 meses, o HR foi 0.50 para PFS (p< 0,001) e 0,60 para OS (p= 0.005). Foram atualizadas PFS2 (tempo entre a randomização ate progressão na segunda linha de acordo com o investigador, ou morte) e OS, num seguimento mediano de 19 meses. Os pacientes tratados com quimioterapia poderiam receber pembro após progressão da doença na primeira linha. 305 pacientes foram estudados. O tratamento de segunda linha foi administrado em 48 pacientes (31,2%) no braço de pembro e em 97 pacientes (64,2%) no braço de quimioterapia. PFS2 mediano foi superior para pembro versus quimioterapia (não alcançada versus 8,6 meses, respectivamente; HR 0,48; p<0,001), assim como OS (não alcançada versus 14,5 meses; HR 0,63; p 0,003), mesmo depois do cross-over.
Comentado pelo Dr. Gilberto Castro, oncologista clinico ICESP.

Abstract 9001
Impact of atezolizumab (atezo) treatment beyond disease progression (TBP) in advanced NSCLC: Results from the randomized phase III OAK study.

Os resultados do estudo OAK, publicados no The Lancet em Janeiro 2017, já haviam demonstrado que o tratamento com Atezolizumab aumenta a sobrevida global (SG) comparado ao Docetaxel em pacientes com câncer de pulmão não pequenas células (HR, 0,73; IC 95%, 0,62-0,87). No entanto, neste estudo a sobrevida livre de progressão (SLP) foi semelhante entre os 2 braços (HR, 0,95; IC 95%, 0,82-1,10).
Portanto a questão é, devemos manter o tratamento imunoterápico além da progressão clássica por RECIST?
O abstract apresentado na ASCO 2017 levanta analisou os dados de pacientes que continuaram Atezolizumab além da progressão por RECIST no estudo OAK. Entre 332 pacientes do braço Atezolizumab, 51% (n = 168) continuaram Atezolizumab após progressão por RECIST e 7% demonstraram uma resposta objetiva subseqüente, 44% apresentaram doença estável e a sobrevivência global mediana além da progressão foi de 12,7 meses.

Numa analise crítica dos dados podemos concluir que: 1. há, obviamente, um viés de seleção, onde pacientes por algum motivo (e.x. melhor performance status, menor toxicidade, etc.) continuaram imunoterapia além da progressão; 2. uma proporção de pacientes apresenta beneficio clínico (resposta ou doença estável) após progressão por RECIST; 3. na prática clínica, deve-se evitar uma generalização dos resultados e considerar o grau de progressão observada, tolerância e tratamento subsequentes disponíveis.
Comentado pelo Dr. Gustavo Werutsky, Chair LACOG e Centro de Oncologia do Hospital São Lucas PUCRS.

Abstract 9002

“Efficacy of the Addition of Cisplatin to Single-Agent First-Line Chemotherapy in Elderly Patients with Advanced Non-Small Cell Lung Cancer (NSCLC): A Joint Analysis of the Multicenter, Randomized Phase III MILES-3 and MILES-4 studies”

Este estudo é uma análise conjunta dos estudos MILES-3, que comparou gencitabina monoterapia ou associada à cisplatina, e o MILES-4, que comparou gencitabina ou pemetrexede monoterapia ou em associação à cisplatina, ambos para o tratamento de primeira linha do câncer metastático em pacientes idosos (>=70 anos). Ambos os estudos foram interrompidos prematuramente devido ao baixo recrutamento, entretanto foi suficiente para avaliar o número de eventos pré-estabelecido para a análise conjunta, com poder de 80% para detectar uma HR=0,75 para sobrevida global. Foram incluídos 531 pacientes ao todo (MILES-3: 299 e MILES-4: 232). A análise mostrou maior taxa de resposta (8,5% x 15,5%, p=0,02) e maior SLP (3,0 x 4,6 meses, p=0,005) em favor para combinação com cisplatina, entretanto o desfecho primário de sobrevida global não foi atingido (7,5 x 9,6 meses, HR=0,86; p=0,136). Os pacientes que receberam cisplatina apresentaram significativamente maior toxicidade. O estudo indica que a maioria dos pacientes idosos com CPCNP não-escamoso metastático não se beneficia do tratamento com cisplatina.

Comentado pelo Dr. Vladmir Claudio Cordeiro de Lima, oncologista clínico A.C Camargo Cancer Center.

Abstract 9005
“CNS response to osimertinib in patients with T790M-positive advanced NSCLC: Data from a randomized phase III trial AURA 3”

Aura 3 é um estudo de fase 3, onde osimertinibe foi comparado à quimioterapia baseada em platina em pacientes com câncer de pulmão não pequenas células com mutação primária de EGFR e que apresentaram progressão de doença após uma linha prévia de um inibidor de tirosina cinase contra EGFR, na vigência da mutação T790M. Esse estudo havia demonstrado a superioridade de osimertinibe e levou à aprovação desta terapia, inclusive no Brasil. Foi apresentado nesta seção o desfecho clínico de pacientes que apresentavam metástases em sistema nervoso central (SNC), sendo 75 casos no braço de osimertinibe (27% do total) e 41 no braço de quimioterapia (29%). As características de base estavam bem equilibradas entre os braços e se assemelhavam às da coorte total do estudo. A eficácia de osimertinibe em controlar a doença em SNC foi superior à da quimioterapia, incluindo uma maior taxa de resposta (70% vs 31%), duração de resposta (8,9 vs 5,7 meses) e controle de doença no SNC (93% vs 63%). O tempo para resposta no SNC foi semelhante em ambos os braços, de 6,1 semanas. A sobrevida livre de progressão foi superior no braço de osimertinibe, com mediana de 11,7 vs 5,6 meses (p=0,004). Esse benefício foi independente do uso prévio de radioterapia. Importantemente, a SLP foi semelhante entre os pacientes com ou sem doença em SNC no braço de osimertinibe, sugerindo que essa terapia seja capaz de superar o impacto prognóstico negativo da doença em SNC. A taxa de progressão de doença em SNC foi menor no braço de osimertinibe (11,5% vs 28,2% em 6 meses). Entre 7 pacientes que tiveram documentação de carcinomatose leptomeníngea no braço de osimertinbe, 4 obtiveram resposta objetiva, sendo 2 completas. Esses dados confirmam a atividade de osimertinibe no tratamento e prevenção de metástases em SNC, além de mostrar uma atividade promissora na doença leptomeníngea.

Comentado pelo Dr. Luiz Araujo, oncologista clínico e Pesquisador do INCA e Grupo COI.

Abstract 9007

“Dacomitinib versus gefitinib for the first-line treatment of advanced EGFR mutation positive non-small cell lung cancer (ARCHER 1050): A randomized, open-label phase III trial”

O trabalho avaliou Dacomitinibe, um inibidor de tirosina cinase do EGFR, de segunda geração, em um estudo de fase III, randomizado, comparando dacomitinibe com gefitinibe em primeira linha para pacientes mutados (exon 19 del ou exon 21 L858R mu +/- exon 20 T790M mu) estágios IIIB/IV/recidivados. O objetivo primário foi sobrevida livre de progressão (SLP). Objetivos secundários incluíram sobrevida global (SG), taxa de resposta e duração de resposta.
Resultados dos 452 pacientes provenientes de 7 países, bem balanceados entre os dois grupos, mostraram taxa de resposta similares entre os dois braços 75% [95% CI: 69, 80] para dacomitinibe e 72% [95% CI: 65, 77] para gefitinibe; p-value = 0.39; SLP de 14,7 meses versus 9,2 meses (HR = 0.59 [95% CI: 0.47,0.74] 1-sided p-value <0.0001). Todos os subgrupos se beneficiaram no braço do dacomitinibe com duração de resposta de 14,8 meses para o braço do dacomitinibe versus 8,3 meses para o braço do gefitinibe. SG ainda não madura. Os efeitos colaterais mais comuns no braço do dacomitinibe foram dermatite acneiforme (13,7%) e diarréia (8,4%); novas toxicidades não foram identificadas. No entanto, houve necessidade de redução de dose em 66,1% no braço do dacomitinibe e 8,0% no braço do gefitinibe. A melhora na qualidade de vida foi similar nos dois braços.
ARCHER 1050 demonstrou aumento significativo do ponto de vista estatístico e clínico favorecendo dacomitinibe em primeira linha, com um perfil de toxicidade favorável.

Comentado pela Dra Clarissa Mathias, presidente GBOT, Oncologista Clínica NOB/Oncoclínicas.

Abstract 9008
Alectinib versus crizotinib in treatment-naive advanced ALK-positive non-small cell lung cancer (NSCLC): Primary results of the global phase III ALEX study.

Este abstract traz os primeiros resultados do estudo ALEX o qual comparou uso de Alectinibe 600mg BID vs Crizotinibe 250mg BID, em primeira linha para pacientes com NSCLC ALK+. Estudo de fase 3 multicêntrico que randomizou pacientes com EC IIIB/IV, ALK+ por IHQ central, incluindo ECOG 0-2, e virgens de tratamento. A primeira análise dos dados demonstrou que o uso de Alectinibe em primeira linha aumenta significativamente a sobrevida livre de progressão quando comparado ao Crizotinibe (redução risco de progressão 53% – HR 0.47, 95% CI 0.34–0.65, p<0.0001 e SLP mediana ainda não alcançada para alectinibe (95% CI 17.7–NE) vs crizotinib 11.1 months (95% CI 9.1–13.1). Além de ter alcançado o endpoint primário, o estudo mostrou superioridade do Alectinibe em relação ao tempo para progressão em SNC (HR 0.16 (95% CI 0.10–0.28; p<0.0001), e taxa de resposta global (Inv: 83% (95% CI 76–89) vs 76% (95% CI 68–82), p=0.09. A sobrevida global baseada em 25% de eventos teve HR 0,76, estatisticamente não significativo.
Sendo assim o alectinibe mostrou eficácia superior e tolerabilidade favorável quando comparado ao uso de crizotinibe. Os resultados do estudo ALEX suportam que o alectinibe pode ser considerado hoje o novo padrão de tratamento para pacientes ALK+ virgens de tratamento. A magnitude do benefício também nos sugere que o uso de Alectinibe como primeira linha parece ser superior ao tratamento sequencial crizotinibe-alectinibe.

Comentado pela Dra. Ana Gelatti, oncologista clínica Hospital do Câncer Mãe de Deus, Investigadora Centro de Pesquisa em Oncologia PUC/RS.