Artigo comentado por Dra. Lilian Faroni
Médica Radio-Oncologista
INCA
GRUPO COI

Huang Y, Huang I, Huang F, et al.
JTO, Fevereiro 2017

Este artigo faz uma análise de coorte de 986.713 indivíduos que tiveram o diagnóstico de Neoplasia de Mama entre os anos de 2000 e 2010.

Destes, foram analisados 7408, onde 5695 foram submetidos a tratamento de Radioterapia e 1713, não.

O objetivo era demonstrar a relação de um segundo tumor primário pulmonar após um tratamento de Radioterapia.

Os resultados deste estudo mostram que a população que foi submetida a Radioterapia, teve uma chance 10.078 vezes maior de ter um Câncer de Pulmão.

Pontos a serem levantados neste artigo

1. O grupo que recebeu Radioterapia tinha quase 50% a mais de pacientes com comorbidades do tipo HAS (10.62% x 6.89%), DM (6.29% x 3.85%) e AVC prévio (1.72% x 1.05%), todos com p significativo, o que nos leva a crer que possa haver uma associação com tabagismo maior neste grupo de pacientes.
2. O estudo não descreve as taxa de tabagismo em nenhuma avaliação. A China é um país com elevados índices de tabagismo.
3. A incidência maior de tumores de pulmão que eles atribuíram ser “radioinduzidos” ocorreu no primeiro ano após o tratamento da Radioterapia. Na verdade esta é a principal informação que nos mostra a NÃO relação entre os fatos, já que segundo estudos de Radiobiologia, os tumores para serem considerados Radio induzidos ocorrem a partir de 5 a 20 anos do tratamento (Hall E, et al). Outro ponto interessante é que não foi descrito em nenhum momento os tipos histológicos encontrados, sendo que o tumor radio induzido mais frequententemente encontrado após um tratamento de mama é o Sarcoma de parede torácica, numa proporção de 2:1(Perez et al).
4. Não são descritos os volumes nem as técnicas dos tratamentos de Radioterapia empregados. Uma coisa que chama a atenção, é que o grupo da Mastectomia que realizou Radioterapia teve maiores taxas de tumores de pulmão. Tratamentos que envolvem plastrão e cadeias de drenagem, a dose pulmonar aumenta, e poderia haver relação, porem a técnica não foi descrita, nem a dose empregada.
5. Em nenhum momento do texto é relatado os tipos histológicos encontrados, e se houve ou não análise de Imuno-histoquímica. Estes tumores pulmonares eram primários ou secundários?
6. Estranhamente, o grupo com a maior diferença encontrada no índice de tumores pulmonares foram nos pacientes que não receberam tratamento cirúrgico, ou seja, em pacientes que muito provavelmente eram metastáticos e realizaram tratamentos de Radioterapia paliativos, levantando ainda mais a hipótese que uma boa parte destes tumores de pulmão eram secundários ao tumor de mama.
7. E o mais importante, tumores radio induzidos, ocorrem em 90% das vezes, em áreas previamente irradiadas. Em nenhum momento do texto o autor menciona os locais onde ocorreram os tumores de pulmão.
8. Por último, evidências atuais mostram que a Quimioterapia também é fator de risco no desenvolvimento de uma segunda neoplasia após um Câncer de Mama (Marcheselli, et al. 2015).

Conclusão:

Diversos estudos retrospectivos mostraram a associação entre tratamento (seja Radioterapia ou Quimioterapia) com chance de segundo tumor primário, principalmente em crianças, porem, nunca numa proporção tão elevada, um risco de 2:1(média). Além disso, em uma população pediátrica, os tumores considerados “induzidos” aparecem a partir de 7 anos do tratamento previamente estabelecido, até 40 anos após.

O tratamento de Neoplasia de Mama é complexo e cada vez mais individualizado, onde diversas características do paciente são estudadas para a definição terapêutica.

Concluir que um tratamento que sabidamente aumenta não somente o Controle Local da Doença, como também a Sobrevida Global dos pacientes, estaria aumentando o risco de um segundo tumor, é – no mínimo – precipitado.